quinta-feira, 19 de março de 2009

A arte como forma de protesto

Repetindo o post abaixo, este também traz um pouco da cultura nordestina, só que escrevo este para comentar um fato triste.

Será um Ctrl C + Ctrl V de um texto, mas é um sobre um assunto que me chocou muito e sobre o qual eu queria, mas não sabia como, comentar: o caso do aborto da garota de nove anos que engravidou após ser estrupada pelo padastro.

Bem, acho que é necessário que cada um julgue e tome suas decisões de acordo com seus princípios, sua consciência e principalmente seus sentimentos. Mas, posto aqui, a opinião de um artista. Em formato de cordel, o autor Miguezim de Princesa, relata o ocorrido. Achei o texto bastante inteligente e divido com vocês.

O texto foi publicado anteriormente no blog


A excomunhão da vítima - Ou o Cordel dos excomungados

I
Peço à musa do improviso
Que me dê inspiração,
Ciência e sabedoria,
Inteligência e razão,
Peço que Deus que me proteja
Para falar de uma igreja
Que comete aberração.

II
Pelas fogueiras que arderam
No tempo da Inquisição,
Pelas mulheres queimadas
Sem apelo ou compaixão,
Pensava que o Vaticano
Tinha mudado de plano,
Abolido a excomunhão.

III
Mas o bispo Dom José,
Um homem conservador,
Tratou com impiedade
A vítima de um estuprador,
Massacrada e abusada,
Sofrida e violentada,
Sem futuro e sem amor.

IV
Depois que houve o estupro,
A menina engravidou.
Ela só tem nove anos,
A Justiça autorizou
Que a criança abortasse
Antes que a vida brotasse
Um fruto do desamor.

V
O aborto, já previsto
Na nossa legislação,
Teve o apoio declarado
Do ministro Temporão,
Que é médico bom e zeloso,
E mostrou ser corajoso
Ao enfrentar a questão.

VI
Além de excomungar
O ministro Temporão,
Dom José excomungou
Da menina, sem razão,
A mãe, a vó e a tia
E se brincar puniria
Até a quarta geração.

VII
É esquisito que a igreja,
Que tanto prega o perdão,
Resolva excomungar médicos
Que cumpriram sua missão
E num beco sem saída
Livraram uma pobre vida
Do fel da desilusão.

VIII
Mas o mundo está virado
E cheio de desatinos:
Missa virou presepada,
Tem dança até do pepino,
Padre que usa bermuda,
Deixando mulher buchuda
E bolindo com os meninos.

IX
Milhões morrendo de Aids:
É grande a devastação,
Mas a igreja acha bom
Furunfar sem proteção
E o padre prega na missa
Que camisinha na lingüiça
É uma coisa do Cão.

X
E esta quem me contou
Foi Lima do Camarão:
Dom José excomungou
A equipe de plantão,
A família da menina
E o ministro Temporão,
Mas para o estuprador,
Que por certo perdoou,
O arcebispo reservou
A vaga de sacristão.

(*) Poeta popular, Miguezim de Princesa,
é paraibano radicado em Brasília.

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Nota: Sou católica, não deixei de ser, vejo erros e acertos na forma como a religião é conduzida, mas, penso que devemos acreditar em Deus e nos nossos sentimentos. Sei que nesse caso, a Igreja seguiu o que prega, a preservação da vida, mas, a violência com a garota, creio eu, seria ainda maior.

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